Um festejado palestrante da atualidade, mais de uma ocasião questionado sobre a sua posição acerca da existência de Deus, confessou a sua total descrença a esse respeito e até afirmou ter uma certa inveja daqueles que alimentam uma fé genuína. Ele tem feito essa afirmação em auditórios e programas de rádio e TV, reconhecendo já haver sido, inclusive, uma pessoa religiosa, coisa que deixou no passado.
Naturalmente que qualquer indivíduo pode acreditar no que desejar e, mais ainda, tem o direito de expressar a sua opinião ou ponto de vista sobre qualquer assunto, desde que não faça apologia ao crime, à violência ou à prática do suicídio. Logo, é lícito defender o ateísmo enquanto pensamento filosófico e, consequentemente, aderir a essa corrente que se contrapõe à ideia da existência de um Ser Superior ou Inteligência Suprema, criador do Universo e que o preside por meio de suas leis.
Diferentemente da opinião daqueles que, individualmente, se consideram ateus, a história da civilização humana jamais registrou a ocorrência de povos que negassem a existência de um Ser Supremo, qualquer que fosse o nome utilizado para o identificar. Pelo contrário, a ideia de uma entidade ou divindade que a tudo criou e à qual se deve prestar culto, reverência ou reconhecimento, é um sentimento inerente a todas nações ou coletividades, em todas as épocas da Humanidade.
O fato é que a ausência de uma certeza ou mesmo de uma leve esperança a respeito da própria imortalidade enquanto individualidade dotada de uma essência espiritual ou imaterial, geralmente conduz o homem a uma situação de desequilíbrio emocional ou psicológico diante de situações graves, como doenças terminais, traições, desemprego, calúnias ou perda de entes queridos. Essa fragilidade frequentemente experimentada pelos materialistas em geral, muitas vezes leva a pessoa a estados depressivos ou mesmo ao ato extremo de acabar com a própria vida.
Por outro lado, a fé robusta, a certeza inabalável na própria sobrevivência após a ocorrência do fenômeno biológico denominado morte, proporciona ao indivíduo uma fortaleza íntima que o coloca acima de todos os problemas transitórios da vida, até mesmo da morte iminente. Trata-se de uma questão de perspectiva, ou seja, o modo como se analisa determinada situação.
Com efeito, aquele que sabe que a sua existência não está circunscrita ao caminho percorrido do berço ao túmulo, que compreende a sua condição de ser pensante, dotado de inteligência, que alimenta emoções, vivencia sentimentos e nutre aspirações, possui uma resistência às adversidades que o coloca numa situação mais vantajosa em relação aos que pensam que tudo se extingue com a morte do corpo físico.
É bem verdade que a forma como a maioria das religiões concebe a alma humana é um desestímulo à crença em sua existência. A ideia equivocada de que o seu início coincide com o nascimento do corpo que por ela é animado é uma negativa a princípios da boa lógica e da razão. Acreditar em algo pelo simples fato de alguém nos dizer que temos que acreditar e que é assim mesmo, não é muito fácil de ser aceito por pessoas voltadas à reflexão, que se dedicam à busca da verdade e que defendem a liberdade de questionar tudo o que está posto.
Negar sistematicamente a preexistência da alma, ou seja, de que aquilo que nós somos não existia antes do nascimento do corpo, é uma teoria bastante conveniente para algumas religiões, uma vez que admitir essa verdade abriria espaço para o reconhecimento de uma outra lei da Natureza. Em outras palavras, seria inevitável se admitir que essa mesma alma necessita de novas experiências materiais para dar continuidade ao seu processo de aperfeiçoamento pessoal, assim como não seria essa a primeira vez que estaria tendo a oportunidade de transitar pelo mundo das formas ou mundo material.
Ao lado dessa visão destorcida sobre a alma, diversas religiões se saem ainda muito pior quando tratam do que se convencionou chamar de Deus. A figura de um ser com aparência humana; dotado de uma personalidade caprichosa e instável; que em um determinado instante cria algo para logo em seguida se arrepender; que precisou descansar após empreender um esforço para criar um simples planeta como a Terra, é uma interpretação muito acanhada do Criador do Universo. Nesse Deus criado pelos homens, fruto de interesses inconfessáveis, eu também não acredito.
Mas, ainda que a imortalidade da alma não fosse uma realidade inerente a todos os indivíduos, a sua aparentemente equivocada admissibilidade já representaria um grande benefício para aquele que a alimenta no seu íntimo. É que a visão de futuro que se tem a respeito de si mesmo, faria com que a pessoa suportasse alguns revezes da vida e, mais ainda, lhe proporcionaria a oportunidade de ver que mesmo os problemas mais difíceis de serem enfrentados, se modificariam mais adiante, caso permita ao tempo realizar a sua obra transformadora.
Quantas pessoas, por haverem resistido, ao invés de se deixarem derrotar, não tiveram a grata satisfação de ver aquela situação terrível ser modificada algum tempo depois? Quantas crises não foram superadas pelos mais corajosos, pelos mais otimistas, pelos que mantém acesa a chama de uma esperança sustentada em uma fé raciocinada, consistente e não dogmática?
Por último, é importante dizer que a Ciência não nega a existência de uma Inteligência Suprema, à qual se atribui a origem do Universo. A Ciência, simplesmente, não consegue provar, através de testes de laboratório ou de outros meios de que disponha, a sua existência. No entanto, o fato de não conseguir provar não equivale a negar. A própria Ciência estabelece um axioma, ou seja, uma verdade inquestionável, segundo o qual não existe efeito sem causa. Assim, sob o ponto de vista científico, é forçoso se admitir que todo efeito inteligente foi originado de uma causa inteligente. Concordar que uma explosão inexplicável (o cômico Big Bang, teoria cosmológica dominante para explicar a criação do Universo) foi responsável pela perfeição, beleza e inteligência presentes na Natureza e que a sabedoria contida na exatidão matemática que rege o Cosmos foram frutos do acaso, é um atentado contra o bom senso.
Autor: Marcus Vinícius Ferraz Pacheco (PE)
Recife, 03 de novembro de 2016.
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